Ó monstro tentador das almas pusilânimes,
que ensanguentas o chão fecundo do planeta,
exterminando alguns, deixando outros exâmines,
com a estranha rapidez de um trágico cometa.
Responde: até onde vai esse furor sangrento,
espargindo na terra as sementes doridas
do rancor e do mal, das paixões mal contidas,
com o mesmo negro ardor famélico e sedento?
Quem és tu? donde vens? És mortal ou eterno?
Surgiste de um vulcão? da estrela da manhã?
- Nas trevas eu vivi, no cárcere do inferno;
ando agora colhendo almas para satan.
Quando surgi no mundo, altivo, sobranceiro,
lancei ao derredor o meu olhar de fera.
Num recanto florido, Adão, o homem primeiro,
castamente gosava o odor da primavera...
Foi então que tentei o criador sereno
para que ele fizesse a primeira mulher;
e, sorrindo, Ele a fez; infiltrei-lhe o veneno
do amor, o falso amor, no lábio rosicler...
Um dia, dia claro e azul de belo outono,
Eva, a formosa Eva, adormecera rindo;
Adão, vendo-a sorrir, angélica, no sono,
beijara-a sensualmente, os lábios repetindo.
Começára daí a minha senda escura,
traindo corações por onde tenho andado...
Tornei-me assim a mais hedionda criatura,
horrendo semeador sinistro de pecado!
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